terça-feira, 26 de abril de 2011

Dificuldades da educação de surdos em escolas inclusivas.

Resumo:
  
 Este artigo investiga a educação de alunos surdos em escolas inclusivas, observando as dificuldades encontradas por esses estabelecimentos de ensino, na tentativa de realizar de forma eficiente essa inclusão. Ao analisarmos a educação de surdos observamos algumas dificuldades encontradas não apenas escolas inclusivas, mas também nas escolas especiais para alunos surdos. Dentre as dificuldades encontradas temos o preconceito existente na sociedade como sendo o gerador dos principais problemas da educação inclusiva. Temos muitas barreiras com relação ao assunto, uma delas é colocar  crianças “normais” ao lado de crianças “deficientes”, mas uma das maiores dificuldades é a falta de políticas públicas, que facilitem o acesso de todos a educação. Outro problema que será relatado neste artigo que é o pouco investimento em educação, em especial nas escolas inclusivas. Um dos obstáculos encontrados pelas escolas inclusivas é a dificuldade de conseguir alcançar as metas escolares, essa dificuldade surge pelo fato de a língua usada na escola ser diferente da usada pelo aluno surdo.    Verificaremos também os pontos positivos e negativos dessa inclusão. Será apresentado brevemente um pouco do contexto em que surgiu a inclusão escolar de surdos. Será apresentado de forma resumida o que é inclusão. Este artigo tem como objetivo levar a reflexão do que ainda precisa ser feito para melhorar a inclusão de alunos surdos nas escolas. 

Palavras – chave: Surdez, educação, escolas inclusivas, língua de sinais.


Abstract:
 
 This paper investigates the education of deaf students in inclusive schools, noting the difficulties faced by these schools in an attempt to efficiently perform this inclusion. In reviewing the education of deaf noticed some difficulties not only inclusive schools, but also in special schools for deaf students. Among the difficulties we have the prejudice that exists in society as the generator of the main problems of inclusive education. We have a lot of barriers with respect to the subject, one is put "normal" children along with children "disabled", but a major difficulty is the lack of public policies that facilitate access of everyone to education. Another problem that will be reported in this article that is little investment in education, particularly in inclusive schools. One of the barriers faced by inclusive schools is the difficulty of achieving educational goals, this difficulty arises because the language used in school to be different from that used by deaf students. We will see also the positive and negative effects of such inclusion. Will be presented briefly some of the context in which emerged the inclusion of the deaf school. Will be presented in summary form what is included. This article aims to lead to
reflection of what still needs to be done to improve inclusion for deaf students in schools.
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Keyword: Deafness, educatión, inclusive schools, sing lenguaje.


A inclusão tem como objetivo oferecer ao portador de necessidades especiais o direito à escolarização o mais próximo possível do normal, e uma maior integração na sociedade. Primeramente vamos analizar o que e inclusão. Segundo o dicionário Aurélio (1993), inclusão é o mesmo que compreender, entender, alcançar com a inteligência.  Falar de inclusão no Brasil realmente não é nada fácil, pois a sociedade ainda é muito preconceituosa. Temos muitas barreiras com relação ao assunto, uma delas é colocar crianças “normais” ao lado de crianças “deficientes”, mas uma das maiores dificuldades é a falta de políticas públicas, que facilitem o acesso de todos a educação. Os investimentos em educação são poucos principalmente em escolas inclusivas o que prejudica o bom funcionamiento destas. No caso do sujeito surdo precisamos de mais interpretes, de centros de apoio às crianças surdas e seus pais, pois além da criança, os pais também precisam aprender a língua de sinais.
A inclusão de surdos tem sido discutida durante varias décadas, foi planejada e na atualidade as escolas inclusivas encontram barreiras e dificuldades na realização desse ensino inclusivo. Segundo Maria Cecília (2003), a situação social em que se encontra a formação de surdos ainda é de graves problemas, mesmo com as mudanças ocorridas recentemente. De acordo com ela, as soluções para esses problemas mostram possibilidades, mas em sua maioria causam divergências, resistências e controvérsias. É evidente, portanto que muito ainda precisa ser feito e discutido, para que ocorram maiores avanços na educação inclusiva.
Segundo Ângela Maria Costa de Souza (2008), o processo da inclusão de surdos nas escolas inclusivas é muito diferente do processo de inclusão das demais diferenças, pois a surdez exclui o surdo pela língua usada na escola, sociedade, impondo assim obstáculos à realização das metas escolares.
A inclusão escolar de surdos tem passado por diversas dificuldades e transformações, mas ainda há muito o que ser discutido. Um ponto que não pode ser desconsiderado nesta problemática segundo SOUZA, 2008 (apud. Pereira & Nakasato, 2002) é o fato de que a maioria dos surdos vem de famílias ouvintes que usam o português na modalidade oral, que é inacessível a eles. Outro ponto importante a ser discutido é o fato de os surdos que são de famílias ouvintes na maioria das vezes chegarem à escola sem a aquisição de um língua.  
Durante esse processo de inclusão escolar de surdos têm sido encontradas diversas dificuldades, tanto pelas escolas inclusivas, quanto pelos próprios alunos surdos; tais como: uma metodologia de ensino que seja compatível com esse aluno portador de necessidades educacionais especiais, que não privilegie unicamente o método auditivo, o que é uma barreira para esse educando específico e que se utilizem na sala de aula de uma forma interativa e inclusiva uma abordagem de ensino que faça com que esse aluno se sinta sujeito de sua própria aprendizagem e que não sofra preconceitos – o que deve ser trabalhado pelo educador, através de projetos que levem a classe à refletir sobre educação inclusiva e respeito ao próximo.
Outra dificuldade encontrada é o fato de a deficiência auditiva não ser um problema “visível”, por isso a detecção do problema as vezes é demorada, o que prejudica a aquisição da linguagem pela criança. A falta da divulgação da linguagem de sinais é outro agravante desses problemas que a escola sofre além de serem escassos os profissionais conhecedores dessa linguagem.
Muitas escolas não dispõem de recursos audiovisuais – um facilitador da educação inclusiva, já que atende de forma satisfatória tanto os alunos surdos, quanto o restante dos estudantes. Às vezes, os educadores não são capacitados – o que deveria acontecer de forma contínua durante o ano letivo – a trabalharem com esse tipo de público. E o professor muitas vezes, mesmo quando tem algum conhecimento de libras, não possui fluência, o que dificulta a relação professor – aluno, em virtude da inaptidão do educador para se comunicar com o mesmo. Além disso, o aluno com esse tipo de necessidades educacionais especiais sofre com a segregação gerida pela falta de comunicação existente entre ele e seus colegas, pois os mesmos, na maioria das vezes, desconhecem a linguagem de sinais.

“A língua oral é o principal meio de comunicação entre os seres humanos, e a audição participa efetivamente nos processos de aprendizagem de conceitos básicos, até a leitura e a escrita. Além disso, influi decisivamente nas relações interpessoais, que permitirão um adequado desenvolvimento social e emocional.” (ROSSI, 2003).

Em virtude disso, muitos alunos surdos não se adaptam satisfatoriamente à escola inclusiva, por causa da falta de preparo das próprias instituições e da inaptidão do processo comunicativo por parte dos alunos convencionais, que desconhecem a libras.
A socialização é muito importante para o desenvolvimento de qualquer ser humano e os alunos com necessidades especiais auditivas também precisam se sentirem integrados ao sistema escolar e aceitos pelo meio docente e discente. Um dos pontos positivos das escolas inclusivas é o fato de que nas escolas tradicionais há um enfoque maior na leitura e na escrita, enquanto que nas escolas especiais para surdos o foco para essas áreas é menor, já que se prioriza um conhecimento específico de conceitos mais concretos. Em uma escola inclusiva, além de propiciar ao aluno especial um ambiente integrador e educá-lo para situações do cotidiano, no qual terá que conviver com experiências de pessoas que utilizam apenas a língua oral; esse enfoque na linguagem, através de projetos de leitura e escrita irá capacitá-lo para integrar a sociedade de forma mais natural possível, haja vista que passou pelas mesmas situações que outra pessoas e tem o mesmo conhecimento.
Em contrapartida, na escola inclusiva há um ponto negativo que é a ausência de uma língua em comum, o que gera a não participação dos alunos surdos nas aulas. Outros problemas são com relação ao comportamento disciplinar do aluno, pois o professor não tem muito contato com o educando – papel exercido pelo intérprete – e este, então, muitas vezes, não percebe ou não dá a devida importância ao comportamento. Há um distanciamento entre professor – aluno, ainda mais recorrente quando esse educador desconhece por completo a linguagem de sinais.
Entretanto, as escolas regulares têm uma exigência de trabalhos, seminários e pesquisas que possibilitam a interação entre os colegas, a socialização e ambos aprendem – tanto o aluno surdo, quanto o aluno regular. As apresentações em sala de aula, em geral feitas em grupo, proporcionam ao educando um sentimento de integrante daquele ambiente, além da positiva troca de experiências e aprendizagem.
A inclusão de surdos em escolas regulares tem passado por muitas mudanças durante décadas. Essas mudanças tem trazido varias melhorias à educação de surdos, mas evidente que ainda há muito para ser melhorado. Ainda é preciso observar o que a inclusão trouxe de melhor para a educação de surdos e o que precisa ser mudado para que essa inclusão possa beneficiar com eficácia tanto os alunos surdos quanto os ouvintes.





Referências:
SILVA, Ivani Rodrigues; KAUCHAKJE, Samira; GESUELI, Zilda Maria (org.). Cidadania, surdez e linguagem: Desafios e realidades. São Paulo: Plexus Editora, 2003.

SOUZA, Regina Maria de; SILVESTRE, Núria; ARANTES, Valéria Amorim (org.). Educação de surdos: pontos e contrapontos. São Paulo: Summus, 2007.

BOTELHO, Paula. Linguagem e letramento na educação dos surdos: Ideologias e práticas pedagógicas.- 3. Ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010.

SOUZA, Angela Maria Costa de; NASCIMENTO, Marilena; DAHER, Sérgio. Caminhos da Inclusão. Goiânia: Kelps, 2008. 

quarta-feira, 20 de abril de 2011

A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NA FORMAÇÃO DO SIMBÓLICO PARA PIAGET E SUA APLICAÇÃO À TERAPIA COM CRIANÇAS SURDAS

A importância do brincar, do faz de conta, torna-se premente na criança com perda auditiva, pois a falta de audição impede que perceba as alterações da voz, timbres, mudanças de tonalidades, malícias, etc, o que a deixa à margem da comunicação subjetiva. Dessa maneira, sua própria vivencia de como lidar com fatos através dos brinquedos dá-lhe uma segurança maior no trato com a realidade, fazendo com que vivencie à sua maneira suas dificuldades e desejos em relação aos outros. Além disso, o trabalho em cima do brinquedo dá novo impulso à fala, pois prepara o intelecto da criança para o uso dos símbolos expressos por palavras, ou seja, o acesso à linguagem oral.
Brincar, para a criança com perda auditiva é o recurso que encontra não só para desenvolver o simbolismo como para entender o mundo que a cerca.
O brincar torna-se sua forma natural de lidar com o mundo, para entender suas regras e exigências sociais, porque não encontra muitas vezes respostas para seus questionamentos, pois seu vocabulário ainda é precário, enquanto o da criança ouvinte é rico, pela diferença na possibilidade de ouvir.
Além disto, citando A. Stern, “a imaginação é mais importante que o conhecimento” e na criança com perda auditiva é imprescindível trabalha-la para que amplie a capacidade de sonhar, condição essencial a um desenvolvimento psicológico saudável e a potencialização de sua criatividade e do fantasiar.
Para Piaget (1978) nos primeiros meses, o bebê esforça-se por transformar e acomodar-se às situações, e este esforço sempre sobrepuja seu prazer em alcançar seus objetivos. Para entendermos isso, basta lembrarmos o esforço do bebê, em seus primeiros meses de vida, ao tentar alcançar algum objeto que o atrai, esforço este que muitas vezes não é recompensado, já que seu controle motor ainda está pouco desenvolvido.
As primeiras ações de bater, jogar e empilhar são chamadas brincadeiras de exercício motor. À medida que consegue adquirir e pode repetir o gesto (alcançar o objeto e leva-lo à boca ou bater com ele para fazer barulho, por exemplo) passa a repetir o gesto, aprimorando-o, sendo capaz, agora, de automaticamente esticar a mão, pegar o objeto e leva-lo à boca ou bater.
Podemos dizer, então, que essas ações adquirem o aspecto lúdico no momento em que a criança utiliza o que já aprendeu para tirar satisfação disso. É um aprimoramento, não mais um desafio. Após essa conquista, aparece o brincar imitando as ações dos outros, tais como passar o pente no cabelo, tentar comer só, tentar ensaboar o próprio corpo.
O passo seguinte é a imitação de situações já vividas através de objetos reais ou miniaturas. É o faz de conta ainda bem elementar, pois está preso à própria criança e aos objetos que comumente usa: faz de conta que bebe na mamadeira, faz de conta que come com sua própria colher, etc.
Até que, finalmente, a criança começa a perceber o “outro” e a aplicar suas ações sobre ele: pentear o cabelo da mãe, dar banho no seu ursinho, etc. Até aqui, a criança percebe o “outro”, mas não se dá conta que este tem sentimentos.
Isso só acontecerá na fase seguinte quando reconhece seus parceiros no brincar como alguém ou algo passível de emoções e logo passa a ser capaz de planejar ações com início, meio e fim e, conseqüentemente, há o aumento do tempo de brincar, porque se estabelece a ordem e o ritmo.
O aprimoramento dessa fase é a capacidade do domínio do símbolo, da simbolização: a criança é capaz de criar, em sua imaginação, o objeto, mesmo que este não esteja ali presente. Um exemplo disso se dá quando a criança finge ter uma piscina e entra nela, batendo mãos e pernas no movimento de nadar. Aqui o brincar independe da presença do objeto e os gestos e palavras criam a situação imaginária e a mantém. A parti daí, segundo ZORZI:
Partindo da simbolização elementar daquilo que vivência no seu dia-a-dia a criança caminha no sentido de diferenciar papeis, inventar situações e personagens novos, coordenar suas brincadeiras com as dos outros, dividir papeis com outras pessoas, criar roteiro, planejamento uma dramatização, até chegar a marcar a situação de brinquedo com a invenção de regras, criadas e aceitas por todos. (ZORZI, 1993).
Podemos dizer que a linguagem está estabelecida quando a criança fala além do que está vendo. Quando conta, por exemplo, uma situação vivida momentos antes com uma amiguinha ou como passou o fim de semana em sua casa de praia. Na criança com perda auditiva, mesmo as que não apresentam dificuldade em adquirir a linguagem oral, esse processo se dá mais lentamente, pois sua aprendizagem necessita ser estabelecida, inicialmente, no tempo presente. Quanto às crianças com dificuldade de oralização, estes respondem muito positivamente a uma terapia atenta a esses passos na formação da capacidade de simbolizar, como veremos a seguir.

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